Ginecologista é o Medico da Zona do Biquini?
- Carolina Melendez
- 11 de mai.
- 3 min de leitura
A medicina sempre buscou tratar o ser humano em sua totalidade, levando em consideração não apenas os sintomas físicos, mas também os contextos emocionais, sociais e espirituais. Ao longo dos anos, o foco das consultas se tornou cada vez mais restrito, principalmente em especialidades médicas. Especialistas tendem a tratar o corpo de forma compartimentada, desconsiderando o fato de que o corpo funciona com órgãos e sistemas de maneira conjunta. A medicina integrativa nada mais é do que a boa e velha “Medicina Raiz”, que resgata a visão mais ampla e atenciosa, reconhecendo que a saúde é fruto de um equilíbrio que vai além dos exames e diagnósticos, englobando estilo de vida , aspectos emocionais, sociais e espirituais.
Existe um termo informal que vemos nas redes sociais que descrevem a especialidade médica tradicional de ginecologia e obstetrícia coma a “ginecologia do biquini”. Esse termo se refere ao atendimento ginecológico focado nas zonas corporais que são cobertas pela roupa de banho: mamas e genitais. Honestamente, nunca me conformei em atender “um câncer de mama”, “uma endometriose”, “um mioma” ou uma primigesta (primeira gestação de uma mulher). Acho inadmissível chamar seres humanos do sexo feminino pela sua condição clínica.

Essa despersonalização (ou seria desumanização?) se inicia na formação médica, que atende principalmente o SUS. Com a imensa demanda de pacientes no serviço especializado cada consulta dura, no máximo, 10 minutos. E precisa ser assim, caso contrário mais da metade das pacientes agendadas não teria tempo de ser atendida. Nesse ritmo insano, os médicos acabam por despersonalizar os seres humanos e os reduzem ao tratamento exclusivo das doenças da “zona do biquini”.
O mais triste é que mesmo após o tempo de formação, a maior parte dos médicos perpetua e normaliza esse tipo de atendimento. Muito por nunca ter tido contato com outro tipo de abordagem, mas muito também por pressão dos planos de saúde (ou gestores públicos) pela produtividade. Não é à toa que a chance de um médico entrar em burnout chega a cerca de 80%. É uma realidade assustadora tanto para as pacientes quanto para os médicos.
A medicina integrativa não é uma especialidade médica, é na verdade a velha e boa "Medicina Raiz" descrita nos livros, que trata a mulher como um ser humano completo (muito além da “zona do biquini”).
Acredite, em qualquer livro técnico de medicina está escrito:
A clínica é soberana: ou seja, o que a paciente sente e apresenta é muito mais importante do que o exame complementar indica. Obviamente, escutar tudo o que a paciente tem a dizer leva tempo. Muito mais do que os 10 minutos que os gestores de saúde pregam como tempo ideal de consulta.
O tratamento de primeira linha de qualquer doença é a mudança do estilo de vida. Antes mesmo de pensar em remédios ou cirurgias. Explicar e motivar o paciente leva tempo, muito mais dos que 10 minutos por consulta. Exceções existem, claro. Mas são exceções.
Boa parte do sucesso terapêutico é baseado na relação de confiança entre médico e paciente. Mais importante, inclusive, que a eficácia de remédios e cirurgias.
A Medicina Integrativa leva em consideração todos os aspectos da vida da mulher: seus hábitos, estilo de vida, histórico pessoal e familiar, além de sua vida social, emocional, crenças e espiritualidade. Ela promove uma maior consciência corporal e emocional, ajudando a identificar quais situações, comportamentos ou emoções desencadeiam sintomas ou doenças. Essa abordagem permite que tanto o diagnóstico quanto o tratamento enxerguem o corpo como um todo, onde todos os órgãos e sistemas estão interligados e funcionam em harmonia.
Tratar o emocional é tão importante quanto tratar o corpo físico. Ajudar a mulher à observar os aspectos simbólicos da sua doença é fundamental no tratamento. A intenção aqui não é trocar um comprimido por um chá ou suplemento, é avaliar a mulher como um ser integral, de corpo e alma para que a saúde seja reestabelecida, principalmente, por meios naturais e autônomos. Cada mulher é a protagonista da sua própria história.
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